domingo, 10 de fevereiro de 2008

MUDANÇA DE ENDEREÇO

"A Lamparina" mudou seu endereço.

Agora está alojada no servidor da Wordpress, onde você poderá encontrar todos os textos e todos os comentários que antes estavam aqui. A partir de hoje, os textos serão postados no novo endereço:


"A Lamparina" se modernizou. Digamos que agora pode ser considerada uma "Lanterna a pilha".

Continue visitando e nos dando o prazer de sua companhia.

Obrigado,

Hugo Harris

Renato Russo reencarnado no palco

Blogueiro Convidado: Eduardo Micheletto
Contato: http://eduardomicheletto.blogspot.com/

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Fui ao Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) assistir à peça “Renato Russo”, sobre o cantor e compositor da Legião Urbana, com o ator Bruce Gomlevsky e a Banda Arte Profana.

O espetáculo conta fatos da adolescência difícil do cantor, que na época passou cerca de dois anos numa cadeira de rodas por causa de um mal ósseo chamado epifisiólise. E Bruce consegue retratar este drama de maneira comovente tirando lágrimas de todos os espectadores.

O roteiro inteligente da peça retrata de uma maneira sutil todas as fases vividas por Renato, desde a Banda Aborto Elétrico, às alegrias e dores da Legião Urbana, o filho Giuliano, a decisão de assumir-se gay e o namoro com o americano Robert Scott.

Aliás, este foi um período de transformação em sua vida, e Bruce (foto ao lado) consegue trazer de volta nos palcos os gestos mais típicos e jeito peculiar do músico, marcando de vez seu nome na dramaturgia nacional.

O espetáculo termina retratando sua morte melancólica no Rio de Janeiro, onde o cantor se isolou de todos os amigos após contrair o vírus HIV.

Mas até os dias de hoje, suas letras são poesia em estado bruto. Renato parece convidar o ouvinte a decifrar a vida, e a entender o amor. Essa foi a grande mensagem da discografia da banda: "o amor".

Se bem que ele nunca soube ao certo o significado desse sentimento: “Quem inventou o amor, me explica, por favor”. Entretanto, embora não acreditasse no amor romântico, mas “no respeito e na amizade”.

Renato queria que sua geração entendesse a força do amor. No épico “Faroeste Caboclo”, o personagem João de Santo Cristo só se arrepende dos pecados ao conhecer Maria Lúcia; em “Eduardo e Mônica”, Renato canta: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração” e vai relatando a história de duas pessoas completamente diferentes que se vêem arrebatadas pelo amor.

Em “Pais e Filhos”, ele eternizou os versos: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”; na ultramelancólica “Vento no litoral”, as frases “Aonde está você agora, além de aqui, dentro de mim?” e “Dos nossos planos é que tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção” revelam todo o desalento do poeta, que permance eternizado no coração de todos os seus fãs.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cinismo político com belas performances

Vivemos num país onde as atitudes políticas cada vez mais nos assustam. Seja um mensalão aqui, ou um cartão de crédito corporativo ali. É dinheiro na cueca, apoio governamental ao presidente Venezuelano que cada dia mais se mostra um paradoxo entre candidato a ditador e demagogo crônico.

Nada melhor do que surgir, assim, um filme como "Jogos do Poder". Um filme cínico, irônico, que trata de jogos de influência de um senador na Afeganistão invadido pelos russos. Tom Hanks, Julia Roberts e Philip Seymour Hoffman estão no elenco, orquestrados pelo excelente diretor Mike Nichols, um especialista em direção de atores.

Não vi o filme, mas vi o trailer, o qual vocês poderão verificar aqui. Aguardaremos a estréia do filme ainda neste mês.


domingo, 3 de fevereiro de 2008

Recapitulando...

Quando imaginamos que um assunto já está encerrado, que o passado empurrou-o para longe e fez com que repousasse nos recônditos da memória, eis que aflora e bate à nossa porta.

Literalmente bate à nossa porta.

Hoje, quando ia entrar em meu apartamento, dei-me com um homem aparentemente estranho à minha porta. Ia tocar a campainha, mas nem deu tempo. Surpreendeu-se com meu surgimento repentino e por milésimos de segundos paralisou...

- Você é um dos salvadores do meu apartamento?

Há pouco mais de um mês, relatei aqui o caso do incêndio num apartamento em meu prédio, o qual conseguimos apagar a tempo (veja em http://hugoharris.blogspot.com/2007/12/fogos-de-ano-novo-antes-da-hora.html). Como descrevi na época, tivemos sorte pois o fogo não pegou em alguns elementos inflamáveis que estavam por perto.

Mas após a pergunta daquele senhor, que eu nem imaginava que apareceria por lá, eu que fiquei paralisado. Envergonhado, para dizer a verdade. Pois o homem oferecia, em sua humildade, um vaso de flores e um pacote com uma bela garrafa de vinho como agradecimento. Havíamos arrebentado sua porta e enchido o apartamento de pó químico. Mas ele queria agradecer do mesmo jeito.

Eu não o havia encontrado após o incidente e sabia que o apartamento tinha sido vendido. Ele voltará para Israel. Claro que o incêndio não tem nada a ver com isso, pois a decisão já tinha sido tomada há tempos. Ele até me passou a informação a respeito da sorte que tivemos, pois se fosse em Israel, o fogo teria comido toda sua residência. Disse-me que as portas dos apartamentos são feitas de aço, por causa de assaltos (me surpreendi quando ele disse que não era por causa do medo de bombas).

Com tudo isso, tive uma sensação esquisita, como se aquele acontecimento surgisse de novo. Achei que o proprietário daquele apartamento não apareceria mais, e não tinha nenhum problema quanto a isso. Agora, fica parecendo que a distância entre aquele dia 31 de dezembro e hoje foi encurtada, como uma elipse cinematográfica. Talvez esse seja o efeito do passado trazido para perto. Sei lá, queria apenas terminar este texto com algo meio filosófico. Fui.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

É possível abordar um texto poético?






Autor: José Saramago

in Cadernos de Lanzarote - págs. 215-7 - Companhia das Letras, 1998.

*dica - leia devagar... e em voz alta*

"Abordar um texto poético, qualquer que seja o grau de profundidade ou amplitude da leitura, pressupõe, e ouso dizer que pressuporá sempre, uma certa incomodidade de espírito, como se uma consciência paralela observasse com ironia a inanidade relativa de um trabalho de desocultação que, estando obrigado a organizar, no complexo sistema capilar do poema, um itinerário contínuo e uma univocidade coerente, ao mesmo tempo se obriga a abandonar as mil e uma probabilidades oferecidas pelos outros itinerários, apesar de estar ciente de antemão de que só depois de os ter percorrido a todos, a esses e àquele que escolheu, é que acederia ao significado último do texto, podendo suceder que a leitura alegadamente totalizadora assim obtida viesse só a servir para acrescentar à rede sanguínea do poema uma ramificação nova, e impor portanto a necessidade de uma nova leitura. Todos carpimos a sorte de Sísifo, condenado a empurrar pela montanha acima uma sempiterna pedra que sempiternamente rolará para o vale, mas talvez que o pior castigo do desafortunado homem seja o de saber que não virá a tocar nem a uma só das pedras ao redor, inúmeras, que esperam o esforço que as arrancaria à imobilidade.

"Não perguntamos ao sonhador por que está sonhando, não requeremos do pensador as razões do seu pensar, mas de um e de outro quereríamos conhecer aonde os levaram, ou levaram eles, o pensamento e o sonho, aquela pequena constelação de brevidades a que costumamos chamar conclusões. Porém, ao poeta — sonho e pensamento reunidos —, ao poeta não se lhe há-de exigir que nos venha explicar os motivos, desvendar os caminhos e assinalar os propósitos. O poeta, à medida que avança, apaga os rastos que foi deixando, cria atrás de si, entre os dois horizontes, um deserto, razão por que o leitor terá de traçar e abrir, no terreno assim alisado, uma rota sua, pessoal, que no entanto jamais coincidirá, jamais se justaporá à do poeta, única e finalmente indevassável. Por sua vez, o poeta, tendo varrido os sinais que durante um momento marcaram não só o carreiro por onde veio mas também as hesitações, as pausas, as medições da altura do Sol, não saberia dizer-nos por que caminho chegou aonde agora se encontra, parado no meio do poema ou já no fim dele. Nem o leitor pode repetir o percurso do poeta, nem o poeta poderá reconstituir o percurso do poema: o leitor interrogará o poema feito, o poeta não pode senão renunciar a saber como o fez."

"Onde os fracos não têm vez" chega esta semana

A estréia desta semana é o filme dos irmãos Coen, conhecidos por suas narrativas de grotescas de humor negro. Poderíamos ir longe ao mencionar obras anteriores que valham a pena conferir: "Arizona nunca mais"; "Barton Fink"; "Na roda da fortuna"; "Fargo"; "O homem que não estava lá" e assim por diante...

"Onde os fracos não têm vez" (No Country for Old Men) é adaptado de um romance do autor americano Cormac McCarthy e reúne no elenco três grandes atores: Josh Brolin (que dá um show em "O gângster", também em cartaz), Tommy Lee Jones e Javier Bardem.

Joel e Ethan Coen ganharam anteontem o prêmio de melhor direção pelo Sindicato dos Diretores nos Estados Unidos. Isso significa que, provavelmente, eles ganharão o Oscar de melhor diretor (pois são as mesmas pessoas que votam nas duas situações). Pelo menos, tenha certeza, essa será a aposta de Rubens Ewald Filho, que sempre se baseia nos prêmios dos sindicatos para antecipar quem ganhará o Oscar, tirando toda a graça. Bem, acabo de fazer o mesmo, né.

Confira o trailer!

domingo, 27 de janeiro de 2008

"Sangue negro" está por vir e traz ótimas credenciais

Um dos filmes que mais aguardo no momento é "Sangue negro" (There Will Be Blood), de Paul Thomas Anderson. Coincidentemente, junto com "Onde os fracos não têm vez", dos irmãos Coen, é o filme que mais indicações possui para o Oscar deste ano. É uma trama que envolve a exploração de petróleo e o sangue derramado às suas custas.

Para mim, bastava a presença do diretor e do ator principal. Paul Thomas Anderson tem uma filmografia pequena ainda, mas fez duas pérolas: "Boogie Nighs" e, principalmente, "Magnólia" (com a sua cena da chuva de sapos e tudo mais... Faz filmes de forma descontinuada, acredito que devido às suas propostas pouco comerciais: filmes de longa duração, temática adulta, sem poupar pudores.

Daniel Day-Lewis dispensa apresentações. Não há papel em que não surpreenda. Aliás, hoje em dia somente ficaria surpreso se ele não surpreendesse. Basta lembrar de Christie Brown, de "Meu pé esquerdo", Gerry Conlon, em "Em nome do pai", ou Butcher Bill, em "Gangues de Nova York". É um ator que mergulha literalmente no personagem. Vive o personagem até fora das cenas. Isso é questionável, mas o resultado está nas telas.

Não tenho muito o que dizer, pois ainda não assisti. Apenas digo que é o que mais aguardo. Abaixo, o trailer para que possam apreciar.

Caso tenha dificuldades para ver o vídeo, acesse http://www.youtube.com/watch?v=GZOMYSEHZeQ

Negros, mulheres ou almofadinhas perfumados?

Certa vez, fui acusado de racismo. Eu trabalhava numa espelunca e um cliente me tratara muito mal. Engoli seco, como um bom atendente deve fazer e deixei o homem ir embora. Após a retirada dele, desabafei. “Folgado! Mal-educado! Pulha! Precisava me tratar assim? Foi apenas um mal-entendido!” Eu havia guardado os filmes dele que ele tinha deixado sobre o balcão. Ele estava separando para alugar, mas eu não sabia que eram dele. Ele tinha largado no balcão. As ordens que eu tinha era de guardar qualquer filme que estivesse sobre o balcão. Após ele brigar comigo, fui à cata de todos os filmes, os quais ele acabou levando. Isso foi na época do VHS total, mais ou menos início desta década.

Acontece que este homem era negro.

No dia seguinte, a gerente disse que eu havia sido racista. Que a “maneira” como eu havia me referido a ele tinha sido causada pela raça dele (e não pelo comportamento que ele tivera comigo). Eu sabia que aquela gerente não era um poço de boas intenções, então logo reagi. Após dizer-lhe tudo aquilo que eu pensava sobre suas acusações, peguei o meu boné e fui embora daquela espelunca. Nunca mais voltei. Eu era free-lancer, não possuia vínculos empregatícios. Eu deveria ter ido à polícia fazer uma queixa por calúnia. Mas não fiz isso.

Este episódio serviu para uma reflexão, a qual será utilizada no que será dito abaixo. Se aquele cliente que me tratara mal fosse judeu, eu teria sido repreendido da mesma forma? Ou japonês, ou índio, ou homossexual, ou árabe, ou marciano? Acho que não. Há uma fragilidade comportamental nas pessoas, uma insegurança congênita, que amedronta-as a contrariar ou criticar alguém de outra raça (principalmente a negra, por causa de nosso terrível passado – para não dizer, de forma pejoritava, ‘passado negro’), no receio de inverterem a situação e dizerem que aquelas críticas são devidas à cor da pele e não ao fato em si. Isso é um erro. Exatamente pelo fato de não ser afetado por esta hipocrisia, sinto-me tranqüilo para criticar quem quer que seja, não importa qual a cor, credo, preferência sexual.

E é exatamente por isso que me assunto com a cobertura da mídia a respeito das prévias para a presidência americana. Cansei de ver na televisão e na internet manchetes como “Obama é o preferido pela população negra da Carolina do Norte” ou “Hillary Clinton mantem-se na disputa graças ao voto das mulheres”. Esses candidatos não possuem propostas? Esses candidatos são apenas suportados por sua raça e sexo? Claro que não. Ou seriam os americanos um bando de ovelhas que apenas enxergam a superfície do candidato sem analisar sequer uma de suas propostas?

Pense realmente numa coisa: você acha que os Estados Unidos serão uma nação menos racista se elegerem Barak Obama para a presidência? Ou você acha que serão mais racistas se não o elegerem? Isso é uma estupidez e uma irresponsabilidade, principalmente da mídia. O foco da mídia está exatamente nesta luta de minorias reprimidas que tentam chegar ao poder – os negros e as mulheres. Isso está errado. A mídia deve se concentrar em analisar de forma construtiva as propostas dos candidatos. Sei que os especialistas em política fazem isso. Mas vejo o próprio Jornal Nacional apontar para simplificações, ao invés de aprofundar-se no tema. Vemos algumas rápidas informações de que os candidatos têm propostas para Educação, Economia e Empregos. Claro que eles têm. Mas não sabemos de nada.

O terceiro candidato, John Edwards, é todo bonitinho – diríamos que “uma cara de JFK”. Parece um galã de Hollywood, com seu cabelo arrumadinho e sua pele de bebê. Parece um garoto riquinho da Carolina do Norte, criado nos casarões de aristocracia local. Aí, se ele for escolhido para ser o candidato do Partido Democrata, nós diríamos que ele foi colocado lá pelos outros almofadinhas? Bem, parece que os almofadinhas estão em baixa, suplantados pelos negros e pelas mulheres. Se esta eleição for decidida por estas características e não pelas propostas de cada um, vejo um futuro temeroso pela frente. Seguindo o raciocínio da mídia, gostaria de saber: e as mulheres negras, votarão em quem?

Ao mesmo tempo, questionemos outra coisa: a mídia enaltece os votos de negros e mulheres nos candidatos porque isso realmente acontece, ou isso acontece porque a mídia se preocupa em apontar isso como fator preponderante? (essa é uma das famosas “diacronias Tostines”)

Pensar em tudo isso me fez lembrar do caso que relatei no início deste texto. Senti-me mais aliviado, pois lembro da pessoa que me fez tais acusações e apenas a enquadro entre aquelas que ainda acham que a forma de julgarmos e raciocinarmos neste mundo deve ter como parâmetro as diferenças entre as pessoas e não seus pensamentos.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Vale a pena uma "Conduta de risco"



Eu não pretendia escrever sobre esse filme. Na realidade, minha intenção neste final de semana era escrever sobre “O gângster”, de Ridley Scott. Achei o filme bom, com um Denzel Washington soberbo ofuscando o clichê de Russell Crowe. Mas não me animei. Pensei que ficarei sem escrever nada e que, na hora que surgisse a vontade e o assunto, escreveria qualquer coisa.

Hoje fui numa reunião e, já que voltava dela num bom horário, decidi arriscar um dos filmes indicados para o Oscar. Quando era mais novo, tinha o hábito de ir assistir, pelo menos, os cinco indicados para melhor filme. Nos anos passados, devido a diversos problemas, não fiz isso. Esse ano pretendo fazê-lo. Somente por isso que fui assistir a “Conduta de risco”. Não queria ver um George Clooney sempre igual, com aquela cara de Batman velho ou de médico de emergência. A cara de bom moço e a excelente dicção há muito me enjoaram (o contrário de quando ele está como diretor, mas este é assunto para outro texto). O diretor do filme também é um desconhecido: Tony Gilroy. Sei que é seu primeiro filme como diretor, mas dei uma olhada no Google e vi que é um roteirista experiente. Entre eles, dois filmes que gosto muito: “Eclipse total” e, principalmente, “Advogado do diabo”.

Fui sentindo-me um intruso, pois não queria estar lá. Sentia que a platéia somente sentava naquelas poltronas por causa das indicações do Oscar. Certíssimo: eu também estava lá por causa disso!

O filme abre com um depoimento em off introduzindo o escritório de advocacia. A montagem é suave e o depoimento é perturbante. Aos poucos emergimos na história que, de início, é difícil de entender. O galãzão é Michael Clayton (que, por sinal, é o título do filme), um advogado que possui um cargo diferenciado no escritório: solucionar problemas. Quais problemas? Qualquer um. Eis que surge um problema enorme e ele se envolve, tem um amigo relacionado, e blá blá blá. O enredo não é o que importa. O que me atraiu no filme foi o tratamento dado à história. Por ter um monte de advogados envolvidos, me lembrou os filmes baseados em John Grisham. Mas é melhor. Consegue ser bem menos “rocambolesco” do que “A firma” (o melhor deles), mais profundo que “O cliente” e “Dossiê Pelicano” (que é um lixo) e mais atraente do que “O júri” (porque este... nem vi).

A fotografia do filme é escura, sem exagerar nas sombras e contrastes, mas a montagem é perfeita. É uma montagem sóbria, que cria suspense quando tem que criar, surpreende nos momentos certos e, ao mesmo tempo, não necessita de subterfúgios complexos para alinhar a narrativa. Trabalha o filme todo num flashback curto, de quatro dias. Geralmente, quando se utiliza deste artifício, os cineastas costumam fazer longos flashbacks de meses e semanas. Nisso, a história fica muito fragmentária, cheia de elipses, para que no curto espaço de duas horas de projeção tudo seja contado. Talvez seja isso que tenha me incomodado em “O gângster” – em duas horas e meia querer contar mais de uma década de história.

Tony Gilroy se concentra nestes quatro dias anteriores e nos subseqüentes e consegue extrair densidade de uma história que, num primeiro momento, pareceria banal. Enfim, achei tudo muito bem ajustado, correto, sem exibicionismo ou qualquer tentativa de supervalorização. Em sua simplicidade, “Conduta de risco” satisfaz, entretem e conta a história que se propôs a contar.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O morcego e o sorriso

Este é um dos trailers do próximo filme do Batman, dirigido por Christopher Nolan.

O filme chamará "Batman, o Cavaleiro das Trevas". Nele, o recém-falecido Heath Ledger faz o papel do maior arquiinimigo do homem-morcego: o Coringa. Ainda há Christian Bale, Michael Caine, Morgan Freeman e Aaron Eckhart.

Deve estrear no Brasil em agosto.

Caso haja algum problema no vídeo, acesse

http://www.youtube.com/watch?v=WaIR9dAZRR0

Olhares cotidianos - para conhecer Eliane Brum

para Fred Linardi

Quando me ofereceram as crônicas de Eliane Brum para ler, li com muito interesse. Vinda do sul de nosso país, nós – os paulistas metidos – a conhecíamos pouco. Hoje ela trabalha na Revista Época, mas ficou anos e anos no Zero Hora. E foi neste jornal que escreveu as linhas que podemos apreciar em “A vida que ninguém vê”.

A arte do jornalismo não se limita a retratar um acontecimento. Isso qualquer um faz. Mas saber transparecer o olhar a este acontecimento, distrinchar suas “simples complexidades”. Ah, esta sim é uma arte. A sensibilidade de observar o cotidiano e expor suas vísceras em palavras cuidadosamente lapidadas em frases objetivas, claras e saborosas.

Mergulhei em cada vida contada nos curtos textos, desde o drama do comedor de vidro que questiona seu talento, quanto a cisma do vendedor cego de bilhetes da Mega-sena em entoar num volume alto sua propaganda. Sentimos a força do texto ao ler o drama de Antonio que tem o filho recém-nascido morto, mas não consegue enterrá-lo propriamente. A pele arrepía-se ao descobrir a história por trás do doce velhinho dos comerciais, que antes teve que arrastar-se pelos ásperos solos nazistas.

Cada relato é um olhar. Eliane Brum tem trabalho ao despir as próprias defesas e deixar-se aberta a qualquer possibilidade. Seja de acontecimento, seja das pérolas que podem sair da boca de seus personagens.

Porém, a lição que fica é mais jornalística do que literária. No texto conclusivo do livro, a autora diz que foi muito influenciada por um professor da faculdade, chamado Marques Leonan. Ela diz que o lema principal dele era “repórter não tem o direito de ser ingênuo”. Eliane Brum demonstra perspicácia ao conseguir extrair os relatos mais contundentes e surpreendentes daqueles com que conversa. Nestas horas, não tem como esquecer Eduardo Coutinho, outro mestre nesta arte. Melhor ainda, leio na orelha do livro que a bela autora também tornou-se documentarista. Essa não posso perder.



A vida que ninguém vê
Eliane Brum
Arquipélago Editorial
R$ 32,00

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mais um desperdício na seara cinematográfica

Infelizmente, já se tornou uma tradição. Atores e atrizes fazem grande sucesso, mas acabam por mergulhar nas armadilhas do destino e jogam suas vidas fora.

Heath Ledger participou de alguns bons filmes nos últimos anos. O mais marcante foi "O segredo de Brokeback Mountain", para mim uma das obras mais sensíveis dos últimos anos. Mas também teve uma rápida atuação em "A última ceia" e promete aterrorizar a todos como o novo Coringa no filme "Batman, o cavaleiro das trevas", que será lançado no Brasil provavelmente em agosto. Foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento, com um vidro de pílulas para dormir tombada a seu lado.

Não precisamos ir longe para lamentar algumas perdas. No início desta semana, Brad Renfro perdeu a vida por causa do vício pelas drogas. Quantos mais? James Dean parou esmagado dentro de seu carro esportivo, River Phoenix partiu após uma overdose de diversas porcarias... Natalie Wood morreu afogada. Grace Kelly, acidentada (apesar de naquela época já ter desistido de atuar, mas não da coroa do Principado). O belíssimo Montgomery Clift e o mito Marilyn Monroe sucumbiram às drogas, aos remédios e ao alcoól. Chris Farley também teve uma overdose. Isso porque não entro no mérito dos músicos, pois a lista seria até maior, com Jimmy Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin apenas de abertura.

Fico a imaginar o que teríamos agora se estas mortes não tivessem ocorrido. Se James Dean teria se tornado um ícone similar ao que se tornou com seu desaparecimento precoce. Será que Marilyn seria o mito que é se não tivesse morrido tão cedo? E se tivesse se deteriorado pelos anos, como aconteceu com Elizabeth Taylor, que ficou resumida a papéis banalizantes que minimizaram seu talento mostrado nos anos 50 e 60?

O que este australiano faria no futuro será sempre uma incógnita. Poderemos especular baseados em sua capacidade demonstrada na sua curta trajetória.

Enfim, só nos resta lamentar.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Homenagem

Este vídeo é uma homenagem a quem parte para terras distantes, ao sul de meu conhecimento.

Papel relevante em minha existência, pois compartilhou conhecimentos, sensibilidade, amizade e me apresentou canções maravilhosas.

Daniel Powter foi o principal. Nunca teria conhecido se não fosse você.

Thanks do Golds

Se não conseguir ver o video corretamente, acesse o link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=3Pi7_n-BbwA

sábado, 19 de janeiro de 2008

Sobre um filme do qual não sei bem o que pensar

Um livro arrebatador... Uma história complexa e dramática, com personagens marcantes. Uma personagem, em especial, com o tempo poderá se tornar emblemática na literatura inglesa - Briony Tallis. Quando o livro "Reparação" esteve às minhas mãos, tive a certeza que folheava páginas de um futuro clássico. Ao mesmo tempo, considerava que daquela história poderia sair facilmente um filme. Enfim, sempre que leio algo não consigo evitar: penso nas imagens, como seria a montagem, quem seriam os atores... Qual o rosto que gostaria de dar para eles...

Quando vi que o livro de Ian McEwan tinha sido adaptado, fiquei na expectativa... Se não me engano, exibiram o filme pela primeira vez em Cannes. Eu nem sabia se viria para cá. Não sabia se era daqueles filmes apenas do circuito de arte. Desses, alguns vêm para o Brasil, e outros ficam no limbo, no meio do caminho, ou nem isso... no início do caminho... distribuição restrita. Mas esse não! Acabou que me surpreendi com as várias indicações que ele recebeu para o Globo de Ouro deste ano e o salto dele na mídia. Não houve festa, não houve comemoração, mas ganhou o prêmio de melhor filme de Drama do ano (essa Associação dos Críticos Estrangeiros premia separado - Drama de um lado, Musicais ou Comédias do outro). Dizem que o filme vai arrasar no Oscar... mas eu tenho as minhas dúvidas...

Acho uma covardia querer comparar um filme com o livro do qual ele é adaptado. Vou tentar não fazer isso, pois como já pode ver, sou um fã do livro. Tentei me desvincular do livro quando assisti e as críticas que tenho a respeito são meramente quanto à obra cinematográfica. Não dá para querer que um filme seja exatamente como o livro, pois é uma concorrência desleal comparar uma obra audiovisual com uma obra multisensorial- que é aquela que nasce em nossas mentes, em nossa imaginação. O roteiro do experiente Christopher Hampton é de arrasar. Ele consegue transportar a essencialidade do livro para a tela. Perde detalhes, alguns importantes, mas mantém o que é relevante. Faz as escolhas certas. Somente sentimos a falta destes detalhes que mencionei quando a revelação final aparece. Neste instante, parece que é tudo muito súbito. Perdemos um pouco daquela sensação de graduação, de acontecimentos e pensamentos que se sucedem de forma lógica. Mas, para isso, o ritmo do filme teria que ser quebrado. Bem, esta era uma barreira, um desafio, que o diretor Joe Wright tinha que enfrentar.

Porém, um filme que tinha tudo para ser belíssimo, se perde ao supervalorizar a destreza técnica. Ninguém quer que um filme seja mal feito, mas o exagero na plasticidade atrapalha em alguns momentos. Tem algo que me incomoda em alguns filmes brasileiros contemporâneos. O excesso de beleza na fotografia. São aqueles céus maravilhosos, vermelhos ao pôr-do-Sol, ou a chuva cadente em seus esplendor, iluminada pelos fantásticos raios que insistem em cruzar a planície. Bah! Percebi em "Desejo e reparação" um preocupação excessiva em fazer planos maravilhosos, cuidadinhos, com trocas de foco complexas e angulações "interessantes". Nas cenas exteriores, cores bem demarcadas, como o vermelho do céu (já virou clichê), ou o acizentado do praia de Dunquerque após a tomada pelos Aliados. Sem dizer naquele plano-seqüência de, parece, seis minutos, que vai de nada a lugar nenhum. Li em alguns lugares que o diretor justificou que aquele é um momento decisivo para o personagem de James McAvoy (por sinal, um excelente ator, como já havia demonstrado em "O último rei da Escócia"). Discordo. Pareceu puro exibicionismo técnico.

Ao mesmo tempo, a trilha sonora, sobre a qual li várias críticas negativas, é ótima. Inteligente, funcional e criativa. A montagem idem, apesar de, em alguns momentos, parecer que tem medo que não entendamos o que está acontecendo.

Terminei a sessão com a sensação de que algo faltou. Não foi alguma parte específica da história (pois li o livro já há uns dois anos e não lembro de forma concreta de algum trecho - somente lembro emocionalmente). Talvez, ao assistir novamente, eu me identifique melhor. Talvez eu necessite de mais tempo para o filme maturar em minha cabeça. Pelo menos, deu para escrever alguma coisa a respeito, e dividir com você. Mas realmente ainda não sei bem o que pensar.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A nova onda do Marketing Esportivo

Blogueiro Convidado: Eduardo Micheletto
Contato: http://eduardomicheletto.blogspot.com

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Após o anúncio oficial da Fifa, que o Brasil será o país sede da Copa de 2014, todas as atenções se voltaram para o nosso país e grandes decisões já começaram a ser tomadas pelas grandes equipes da capital.

O São Paulo, por exemplo, já está se mexendo, visando não só a ampliação do estádio, como também na assinatura de grandes contratos publicitários. Além disso, o Reffis atualmente é uma referência mundial, na reabilitação e aperfeiçoamento físico de atletas esportivos.

Além disso, o contrato com a Warner Bross está rendendo bons dividendos nos cofres do clube, que estampa o logo do clube nos personagens da empresa americana. Devido ao grande sucesso, a produtora de cinema estuda criar um boneco com a “cara” do Rogério Ceni, grande ídolo da torcida tricolor.

Uma antiga iniciativa foi a criação do Museu do São Paulo, onde são exibidas todas as taças conquistadas pelo clube, reforçando ainda mais sua marca junto ao seu torcedor. Esta fórmula foi copiada de grandes clubes da Europa, como Arsenal, Manchester e Real Madrid.

A venda de DVD’s é outra fonte de renda já explorada por nossos clubes, e a venda de carnês com ingressos antecipados para os jogos já estão sendo utilizados por grandes equipes, e graças a adequação do nosso calendário ao europeu, isso se tornou possível.

Aproveitando o sucesso do seu rival, o Corinthians também está se mexendo. E após o trágico rebaixamento para a Série B, a nova administração do clube, sob a batuta de Andrés Sanches, revitalizou todo o departamento de marketing da equipe, procurando trazer seu fiel torcedor de volta.

A camiseta “Nunca vou te abandonar....”, criada pelo clube está sendo um sucesso de vendas e outras ações estão sendo tomadas pelo clube, como a criação dos planos "Minha Vida", "Minha História" e "Meu Amor", previstos para este mês.

A expectativa do clube é reforçar o caixa do clube, muito enfraquecido após péssimos acordos, tanto com a Hicks Muse, quanto com a MSI, todos na gestão Alberto Dualib, e que renderam ao clube, além de um caos financeiro, um grande “arranhão” na gloriosa história do clube.

Já o Palmeiras, que após anos voltou a fechar um grande contrato de patrocínio em seu departamento de futebol, pode trazer jogadores de renome para seu plantel. Além disso, o clube recentemente, fechou dois acordos importantes, um para a reforma do Palestra Itália, e outro para a venda antecipada de ingressos para os jogos do clube através do uso do cartão de crédito.

Estas iniciativas ainda são precárias, comparadas a estrutura do Marketing Esportivo Mundial, mas se tratando de Brasil, já é importante que as coisas estão acontecendo....

domingo, 13 de janeiro de 2008

De que vale o elogio?

nada é senão palavra
rubra em sua timidez

finita sob a brisa

lança sensações
rumo a um passado
que quer ser presente
mas arrepende-se de ter sido

melhor quando constato
e compartilho

não há verdade perene

há contemplação

eis que o Belo
é a essência
que se mantém... apesares

[ sobrevive o olhar ]

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Um Pouco de Nada

Blogueira Convidada: Thais Soriano
Contato: http://thaisando.blogspot.com

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Um amigo teve uma idéia genial, ele abriu um espaço no próprio blog para blogueiros convidados, é uma ótima oportunidade para quem está começando agora. Adorei a idéia e fui logo tentar escrever alguma coisa. Sentei na frente do computador e veio aquele conhecido pensamento “por onde começo?”.

Deixei para começar a escrever depois, tinha que pensar em um assunto legal, afinal não ia postar no meu blog, era em outro lugar e eu não podia desapontar, vai que meu texto fosse censurado pelo dono da A Lamparina, não podia escrever qualquer coisa.

Podia aproveitar a oportunidade e fazer uma auto divulgação. Sou publicitária, tenho um blog, não escrevo com freqüência mas adoro quando escrevo, e adoro quando lêem o que eu escrevo, não para receber elogios mas porque assim eu sei que as pessoas vão me conhecer um pouquinho melhor, mesmo que achem meus texto confusos você acaba descobrindo o quanto sou confusa e isso já é um pouco de mim.

Queria escrever um texto mais culto, falar de política, da burrice humana, mas não consegui pensar em nada, até ontem pensei em escrever sobre os quadros roubados e achados do Masp, eu estava revoltada, como pode alguém entrar no Masp roubar 2 quadros valiosos e se deixar ser capturado? Como pode? é muita burrice...Nem me surpreendi quando li hoje na Folha que os assaltantes não tinham terminado nem o Ensino Fundamental. Será que eles nunca assistiram Thomas Crown – A Arte do Crime? Até mesmo Onze Homens e um Segredo, e todas as suas continuações, ensinam alguma coisa sobre roubo. Aprende com o Maluf.

Agora que eu notei, já juntei cultura (Masp), burrice humana (assaltantes) e política (Sr Maluf) no parágrafo acima, então acho que consegui escrever um texto a altura do A Lamparina, mesmo que ele não seja tão longo quanto os já publicados. Só falta agora a auto divulgação discreta: Entrem e comentem em www.thaisando.blogspot.com.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Peitões... Bundas... Barriguinhas saradas...

- começou o Big Brother Brasil!!!

- e lá vai mais um desfile de beldades, na ânsia de serem famosos, em busca de um rápido lugar ao Sol...

- pode render milhões... seja na casa, seja na revista, seja nos programas (de qualquer gênero - televisivo ou particular), seja como protagonista da novela...

- ah, como é bom pensar que tudo é legal, que a vida é uma festa... que gostaria de estar naquela piscina, jogando água para o alto, mostrando como sou legal...

- hey, Brasil, olha para mim!

- quero pular em frente ao telão, mostrar como amo todos, mesmo aqueles que não reconheço na multidão forjada para alentar meu paredão...

- ah, mas agora dá para ver que não posso ser famoso, pois para ser 'pretendente-a-famoso' no BBB, tenho que ter algo no currículo... tenho que ter saído na VIP, ou sido cantora na França, ser modelo, miss... o espaço dos anônimos é restrito...

- mas tenho que lembrar: o que importa é manter tudo à vista, pois a audiência deve subir... e, ah, como sobe... uma delícia...

- e depois? e depois? Será que é rentável ganhar? Vejo que alguns que não ganharam receberam muito mais... vou pensar, vou pensar... quem sabe minha verdadeira estratégia? nem eu... perder como o mártir da injustiça naquele micro-universo talvez seja o passaporte para render bastante do lado de fora...

- assistir, assistir... será que dá para resistir? criticar é fácil, mas a curiosidade, por mais que seja dolorosa, tem que ser alimentada... e seu combustível é a famosa "espiadinha" diária...

- vergonha, fama, bundões... sei lá... amor, ódio.... o que dizer?

- confuso, né... não se preocupe... quando visto de perto, todo mundo é...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Catseries - a baleia preta

Quando meus pais foram ao veterinário para adotar os dois gatinhos que estavam destinados a nós, procuraram pela gatinha que eu tinha comentado. Ela era sapeca, super-ativa. A própria veterinária disse que seria uma peste! “Espere ela crescer. Você verá!”, sentenciou, com ecos ao fundo e quase uma gargalhada no final.

Não teve jeito. Ganhei um ‘brinde’. Além dos dois gatinhos gêmeos que vinham para casa, uma gatinha preta e comprida se enrolava com eles, querendo brincar e correr para todos os cantos.

Eu sempre quis ter um gato preto. Dizia que ia chamá-lo de “Félix”, devido à minha falta de criatividade e adoração pelo antigo desenho daquele felino amigo do cientista Poindexter (sem dizer de sua valise que continha tudo e virava tudo o que ele quisesse). Infelizmente, era uma gatinha. Então, em outro surto de enorme criatividade (coisas da genética), meu pai nomeou-a “Blackie”. Não havia solução, senão conformar-me com aquele nome e o azar da gata ser fêmea.

Cerca de dois meses se passaram e chegou a data em que castraríamos os gatos. A expressão de sofrimento daqueles coitados (e coitada!) podia ser vista, como se estivessem numa fila de execução. Alguns pensavam: “Ai, lá se vai o meu pipi”.

Quando minha mãe volta com as vítimas da veterinária, chega rindo de mim. “Adivinha, adivinha”. Nem podia imaginar. “Adivinha, adivinha... Sabe a Blackie?” Eu nem queria pensar. Já imaginei as tragédias, que a gata teve um treco durante a cirurgia e... Credo! Minha mãe continuava devagarzinho, só para me torturar: “A Blackie... A Blackie não é Blackie. Ela é ‘o’ Blackie.” Descobriram próximo da hora da cirurgia que ela não era ela. Ela era ele. Era um menino. Um garotão. Um moçoilo preto e peludo. Fiquei chocado. Como não percebemos? Bem, isso é possível. Enfim, foi possível, né. Culpa da veterinária! Eu não fiquei levantando o rabo do gato para verificar se era macho ou fêmea. Ela falou que era fêmea e eu acreditei...

Agora eu queria que queria mudar seu nome para Félix. Comecei o meu lobby, na tentativa de causar comoção e alterar a alcunha daquele felino que acabara de sair do armário. Tentamos por um tempo chamá-lo de Félix, mas vira-e-mexe o hábito adquirido se manifestava e acabávamos chamando de Blackie. Por fim, seu nome definitivo se tornou Black Félix (como se o Félix do desenho já não fosse preto, né). Enfim, foi o que consegui.

Mais algum tempo se passou e outras novas características afloraram no gatinho. Ganhou muito peso, virou praticamente uma bola. Ficou gordo que nem um beagle. Costumo chamá-lo carinhosamente de “minha baleia preta” ou "meu gato-baleia". Se não bastasse, descobrimos que tem vitiligo. Ele que é todo preto, até às almofadinhas das patas, foi ficando rosado em algumas extremidades. Não faz mal algum, mas agora é um gato multicolorido. Sua boca ficou rosada, algumas almofadinhas também, e parte dos pêlos pretos do cangote ficaram brancos. Mas não pense que ficou feio! Ele é lindo: gordo e rosa, em seu esplendor, com seus olhos amarelos cor-de-gema.

É tão carinhoso, que quando conseguimos levantá-lo do chão literalmente nos abraça com as patas. Pula toda hora em nosso colo, pedindo para aninhá-lo. Imagine com o peso que tem, a delícia quando pousa sobre nós. Mas não é tão peste quanto a veterinária havia calculado.

Bem, este é o segundo membro do Quarteto Fantástico. Como podem ver, cada um possui seus poderes especiais.





domingo, 6 de janeiro de 2008

Sombras de Goya - uma película 'multi-pátrias'



Não lembro qual foi o primeiro filme de Milos Forman que tive o prazer de assistir. Seja qual for, todos os que vi gostei. Acredito que o primeiro foi “Amadeus”, um épico-drama-de-humor-negro. Depois, vieram os outros: “Um estranho no ninho” e os atuais, como “O povo vs. Larry Flint” e “O mundo de Andy”. Esse diretor tcheco iniciou sua carreira na antiga Tchecoslováquia mas depois foi exportado pelos americanos para fazer sucesso naquela terra do Tio Sam.

Natalie Portman já é conhecida do público cinéfilo. Aqueles que viram aquela menininha de original israelense surgir em “O profissional”, de Luc Besson, sabiam que se tornaria uma estrela. Alguns anos se passaram e teve performances marcantes – a principal em “Closer – Perto Demais”.

O espanhol Javier Bardem chamou a atenção de todos em “Carne trêmula”, de Almodóvar. Mas já havia participado de outros filmes de destaque, como aquele dos presuntos, de Bigas Luna: “Jamon, Jamon”. Antes disso viveu um tempo em Búzios, com seu irmão, mas hoje faz diversos filmes pelo mundo, impulsionado tanto por aqueles primeiros sucessos, quanto por sua atuação em “Mar adentro”, Oscar de Filme Estrangeiro de 2004. Dizem que sua atuação em “Onde os fracos não têm vez”, o western sui generis dos irmãos Coen que será lançado aqui em fevereiro, é excepcional.

Stellan Skarsgard é sueco e um coadjuvante comum nos filmes americanos. Podemos vê-lo em filmes como “Gênio Indomável” e “Ronin”. Porém, suas melhores aparições estão nos filmes de Lars von Trier, especialmente em “Ondas do destino”. É um ator forte e expressivo, mas possui alguns defeitos.

Quando descrevemos uma unanimidade, deve-se tomar cuidado para não exagerar nos elogios. Assim, quanto ao roteirista francês Jean-Claude Carriére, já falará por si enumerar os filmes aos quais roteirizou e o nome de um dos melhores livros de roteiro que já li: “A linguagem secreta do cinema”. Alguns dos seus filmes são: “O diário de uma camareira”, “A bela da tarde”, “Via Láctea”, “O discreto charme da burguesia”, “O fantasma da liberdade” e “Esse obscuro objeto do desejo”, todos de Buñuel. Também há a adaptação dos clássicos: de Günther Grass, “O tambor”; de Kundera “A insustentável leveza do ser”; de Rostand “Cyrano de Bergerac”; de Dostoievski, “Os possuídos” (‘Os demônios’). Dentre muitos outros filmes, também há Danton, de Wajda. O que dizer a mais?

Esses cinco artistas de diferentes países se encontraram, para criar uma obra que, em si só, já retrata uma mistura. “Sombras de Goya” (Goya’s Ghosts) ocorre na época da Inquisição Espanhola e envolve não apenas eles quanto franceses e ingleses. Não se atém a um fato isolado, mas expõe a complexidade de relações envolvidas num período de animalidade em que o poder clerical era utilizado como moeda de troca pelos mais diversos fins. A figura do pintor Francisco de Goya apenas surge como uma ligação e um ponto de encontro das tramas advindas. Stellan Skarsgard faz o pintor que busca auxiliar a jovem Inês (Natalie Portman) que é submetida ao interrogatório do Santo Ofício e encarcerada injustamente em seus porões. Em meio a este acontecimento, está o clérigo Lorenzo (Javier Bardem), personagem que sofre diversas reviravoltas, característica de sua personalidade ímpia e aproveitadora.

Há cerca de um ano, o livro “Os fantasmas de Goya” foi lançado aqui no Brasil, tendo como autores o diretor Milos Forman e o roteirista Jean-Claude Carriére. Confesso que o tema não me atraiu muito. Acabei por ir assistir devido à recomendação de algumas pessoas e matérias positivas que li na mídia.

Realmente, é um filme diferente, envolto por uma atmosfera purulenta, sem poupar o espectador das atrocidades que quer retratar. Uma fotografia realista, que mescla o colorido das vestes militares e do luxo (ou luxúria) palacial, com os obscuros porões do submundo e da imundície daquele plebe ignorante. Ao terminar o filme, há uma sensação de incompletude, pois a trama não finaliza no último ato, mas demonstra uma continuidade da qual temos ânsia, mas à qual não teremos contato.

No passado, grande diretores, como Visconti e Fellini, formavam seu elenco com atores e atrizes dos mais diversos países. O que importava era que esses atores, com seu talento se adequassem às figuras retratadas nos filmes. Depois, dublavam tudo em italiano e uma obra-prima estava pronta. Milos Forman faz a mesma coisa neste filme, apenas deixa de dublar e consegue encontrar um idioma em comum entre todos os artistas.

Ele é um diretor que não está nos maiores círculos de discussão. Porém, se sua obra for analisada, ele não fica a dever em qualquer um dos filmes. “Sombras de Goya” é mais um exemplo. Milos Forman fez os mais variados estilos, desde o drama convencional, até o filme de época, gangsters e musical. É um diretor para ser notado e assistido, não apenas comentado.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Borgianas*


“Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca”
Jorge Luis Borges


As folhas estalavam enquanto os pés progrediam naquele jardim amarelecido. A cada passada, o rosto do ancião buscava as imagens de sua memória, arquivadas através do tempo. Os olhos caídos não disfarçavam a vista cansada, e o calo na ponta do nariz acusava as repetidas horas que manteve-se relendo os volumes da biblioteca. Seus setenta anos deixaram marcas físicas. As pernas tinham dificuldade em suportar o peso do corpo, e uma bengala era necessária para sustentá-lo. O peito movimentava-se numa velocidade curiosa, pois alternava o desespero em inspirar o ar com a sofreguidão dos espasmos do diafragma. Enquanto andava, mirava a entrada do labirinto que gostaria de percorrer.

É assim que imaginei Jorge Luis Borges caminhando num dos cenários fantásticos que criou. Aquela figura respeitosa deve ter-se colocado inúmeras vezes, nos mais variados ambientes, como personagem de alguma trama mirabolante que pôde testemunhar nas páginas dos milhares livros que leu. Foi um dos tripulantes comandados pelo Capitão Ahab, em busca da enorme baleia branca que acabou por destroçar o navio. Sentiu na pele as facadas de Martin Fierro, mas estas eram lâminas que não feriam, e sim desenhavam marcas indeléveis em sua alma.

Sempre que possível, citava essa obra de José Hernandez. Num de seus ensaios, fez questão de frisar a “não-intenção” deste em transformar aquele poema numa das obras pontuais da literatura argentina, como acabou tornando-se. Porém, foi desta falta de intenção que brotou o gênio de Martin Fierro, e toda a cerne do gaucho (sem acento) dos pampas, que tornou-se figura lendária e folclórica. Nas palavras de Borges estavam a definição do que ele próprio se tornaria. Quando quis expressar a falta de pretensão de Hernandez, descrevia o sucesso e o respeito que sua própria obra viria a ter.

No momento que eu olho os volumes de suas Obras Completas expostos na minha prateleira, tento descobrir dentro de mim quais as sementes que foram plantadas no meu interior. É importante eu poder dizer que li a respeito do Vathek de Beckford, ou que sou íntimo de Alonso Quijano. Que sei a importância de um homem como Macedônio Fernandez na vida de Borges — assim como este é importante para mim. Percorri os diversos poemas que escreveu no início de carreira e emocionei-me com sua delicadeza imagética, o detalhe de suas descrições. Porém, o que germinou nas minhas entranhas foi esse interesse incondicional à absorção de quaisquer leituras disponíveis.

Leio seus estudos e tento vislumbrar esse desespero que tinha pelo conhecimento. Deixou de ser paixão pelos livros. A paixão, por mais que dure, tem como característica a temporalidade e sua instabilidade. De acordo com alguns, se não fosse instável, não seria paixão. A relação de Borges com a literatura, na realidade, foi uma obsessão. Ao escrever esta palavra veio-me à mente uma idéia negativa. Um homem enlouquecido, escalando prateleiras para chegar ao topo e buscar um volume empoeirado. Esta cena seria muito provável mas, ao tratarmos deste escritor argentino, está longe de ser uma situação negativa.

Na questão do conhecimento, acho difícil encontrar uma leitura mais proveitosa do que aquela na qual podemos perceber o sentimento interno do escritor. Em Dostoievski, podemos sentir o questionamento interior e os dilemas de uma psique perturbada. Kafka demonstra o retrato da mente caótica e ciente do universo nonsense no qual imergira — ou seja, o paradoxo da perturbação, que consiste nesta junto à consciência da mesma. Esses autores ativam em mim uma reflexão existencial que difere do estudioso argentino. Enquanto descubro meandros inexplorados da minha consciência, por meio de O Processo ou Memórias do Subsolo, Borges faz pulsar outra parte de mim.

Quando leio Borges, percebo aquele homem plácido e de olhos vidrados percorrer as linhas dos livros com o dedo indicador, e parar a cada instante para anotar algo que lhe interessara. Procuro fazer o mesmo, não tenho pressa em terminar. Assim como ele, tento buscar nas linhas ocultas a essência da expressão do homem, que consiste em idéias escondidas entre os espaços das palavras, que somente serão encontradas se analisadas com cuidado. Após isso, colocava-se freneticamente a registrar suas impressões, momento no qual surgiram seus reconhecidos prólogos e as análises de Dante e Shakespeare — ou Carlyle e Whitman — e outra centena de autores.

À medida que tanta criação acaba por inspirar os sentidos criativos, o argentino enveredou pelos contos e poesias, os quais refletem ainda mais suas referências culturais, desde a literatura erudita até a mitologia nórdica e as histórias do Oriente.

A cegueira gradual que foi diminuindo sua visão não o abalou. O escritor sabia que sua doença era congênita e que estaria condenado a isso. Acredito que por esse motivo preocupou-se tanto com a percepção da riqueza das imagens nos seus trabalhos. As discussões filosóficas ficaram em segundo plano, enquanto a beleza da descrição de um episódio ou a complexidade dos entrelaçamentos narrativos mostraram-se muito mais relevantes. Numa palestra a respeito do tema “A cegueira”, disse a seguinte frase: “A cegueira é uma clausura, mas é também uma libertação, uma solidão propícia às invenções, uma chave e uma álgebra”.

Tenho uma pessoa querida que está passando pela mesma aflição de ter que afastar-se da leitura. A escuridão cresce e mistura-se às letras negras impressas no papel. E, junto a estas letras que desaparecem, some aquele sentimento de participação e testemunho das proezas de personagens maravilhosos, como os inúmeros contidos nas mil e uma histórias de Cheherazade. A sensação de vazio neste momento é como a de um diabético que é proibido de ingerir açúcar, ou de um velocista que não pode mais correr.

Sei que isso poderá acontecer comigo. A genética é infalível, assim como a consciência de sua comprovação. O tempo persegue o seu objetivo, que trata-se de encaminhar-nos aos nossos destinos. A partir do momento que o meu poderá tratar-se da privação da leitura, procuro seguir o exemplo deste grande autor.

Borges, para proteger-se de sua sina, procurou absorver a maior quantidade de estudos que pôde por toda a vida. Por fim, tornou-se algo similar ao aleph que descreveu num de seus contos. Era capaz de conter, num único ponto — que seria ele próprio — a amostragem de toda a diversidade de acontecimentos, sabedoria, paisagens e personagens existentes no Universo. E é por isso mesmo que o vejo caminhar por seu jardim de veredas que bifurcam, craquear folhas e relembrar cada lombada dos livros que mascaravam galáxias diversas, comprimidas em singelos volumes.


*texto publicado em 2005 pela Revista Paradoxos, da Universidade Mackenzie, e posteriormente em diversos sites.

**a ilustração contida nesta postagem não possuia crédito, mas foi retirada do link: http://charlesblake.wordpress.com/2007/06/22/biblioteca-personal-jorge-luis-borges

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Devaneios da vida

Blogueiro Convidado: Walter W. Harris
Contato: http://walterwharris.blogspot.com e wwharris@gmail.com

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Deve haver algum motivo para que estejamos aqui na Terra. Não é possível que seres racionais que somos — e, às vezes, irracionais também — apenas nasçam, cresçam e morram.

Há um enorme leque de indagações, afirmações e conjecturas sobre a vida, feitas por filósofos, sociólogos e outros pensadores, membros de nosso clã, o do Homo sapiens.

A futilidade de uma existência, as incertezas do amanhã e a tanatofobia induzem o ser humano à procura de uma explicação supersticiosa para sua presença neste mundo cruel e perverso onde, se o indivíduo for fraco ou frágil, será pisoteado como a um inseto rastejante.

A origem das religiões, sejam elas cognominadas pagãs, sejam elas monoteísta cristã, ou não, deve-se justamente a esta ansiedade de se tentar explicar o inexplicável, o ilógico. Mesmo porque, jamais alguém retornou da vida pós-morte, se é que ela existe, apesar das inúmeras afirmações mediúnicas a respeito.

É certeza inabalável que a vida é conturbada pela noção da morte. Sem ela, a vida não tem sentido. Por isso, em todos os caminhos da vida, observamos pessoas dedicadas e abnegadas para com o próximo, muito embora haja sempre forças contrárias para tornar a própria existência intolerável.

O que mais faz a vida sustentável, suportável e razoável, é a família.

Pode-se observar que, ao se estudar o comportamento no reino animal, há uma agressividade maior entre animais que vivem isolados e sozinhos, e não grupalmente. É verdade que há grupos que também são violentos, no entanto, em geral, agem assim com o intuito de se proteger.

É, também, assim, entre os humanos. O recurso da violência, quando em família, é, igualmente, para defender a mesma, quando se sente ameaçada.

O anseio de se formar uma família é inerente, e torna-se plenamente justificado, psicologicamente, diante do exposto, pois o conjunto é mais forte para defender-se das agruras externas e da própria morte, que sempre necessita ser adiada.

Aliás, o conceito de família pode perfeitamente se estender para organizações, cidades e países, formando-se, deste modo, meios de fortalecimento em sua própria defesa e, no frigir dos ovos, do combate à morte.

Em conclusão, a morte é inexorável. Não pode haver vida sem que haja o término de uma existência. A vida é curta. É única. Precisa ser vivida em toda sua plenitude, com motivação, com direção, e com a percepção de que se chegará ao fim, algum dia...

Blogueiros convidados

Para iniciar o ano de 2008, o Blog "A Lamparina" apresenta uma nova modalidade em seu conteúdo: os Blogueiros Convidados.

Algumas pessoas serão convidadas a escrever para este Blog. Não será pedida nenhuma pauta em especial, apenas a contribuição com algum texto que queira compartilhar. Peço que, de preferência, sejam textos inéditos. Não haverá censura a respeito de assuntos ou abordagem, desde que não ultrapasse os limites legais.

Todos estão convidados a participar, basta me notificarem o interesse. O nome é "Blogueiros Convidados", mas você também pode se convidar. Entre em contato pelo e-mail flegetonte77@yahoo.com.br, com o assunto Lamparina - BC.

Os textos terão o título indicado pelo autor e serão precedidos por duas linhas informativas:
1) Nome do Autor; 2) Contato indicado pelo autor.

Na lista de marcadores, localizada no menu à direita, haverá um tópico especial chamado "Blogueiros Convidados".

Como eu sempre digo, gosto de dizer o que penso, da maneira que eu quiser, e saber a SUA opinião a respeito. Agora, há a possibilidade do contrário: você dizer o que pensa, sobre o que quiser... neste espaço que será reservado exclusivamente para isso.