Não teve jeito. Ganhei um ‘brinde’. Além dos dois gatinhos gêmeos que vinham para casa, uma gatinha preta e comprida se enrolava com eles, querendo brincar e correr para todos os cantos.
Eu sempre quis ter um gato preto. Dizia que ia chamá-lo de “Félix”, devido à minha falta de criatividade e adoração pelo antigo desenho daquele felino amigo do cientista Poindexter (sem dizer de sua valise que continha tudo e virava tudo o que ele quisesse). Infelizmente, era uma gatinha. Então, em outro surto de enorme criatividade (coisas da genética), meu pai nomeou-a “Blackie”. Não havia solução, senão conformar-me com aquele nome e o azar da gata ser fêmea.
Cerca de dois meses se passaram e chegou a data em que castraríamos os gatos. A expressão de sofrimento daqueles coitados (e coitada!) podia ser vista, como se estivessem numa fila de execução. Alguns pensavam: “Ai, lá se vai o meu pipi”.
Quando minha mãe volta com as vítimas da veterinária, chega rindo de mim. “Adivinha, adivinha”. Nem podia imaginar. “Adivinha, adivinha... Sabe a Blackie?” Eu nem queria pensar. Já imaginei as tragédias, que a gata teve um treco durante a cirurgia e... Credo! Minha mãe continuava devagarzinho, só para me torturar: “A Blackie... A Blackie não é Blackie. Ela é ‘o’ Blackie.” Descobriram próximo da hora da cirurgia que ela não era ela. Ela era ele. Era um menino. Um garotão. Um moçoilo preto e peludo. Fiquei chocado. Como não percebemos? Bem, isso é possível. Enfim, foi possível, né. Culpa da veterinária! Eu não fiquei levantando o rabo do gato para verificar se era macho ou fêmea. Ela falou que era fêmea e eu acreditei...
Agora eu queria que queria mudar seu nome para Félix. Comecei o meu lobby, na tentativa de causar comoção e alterar a alcunha daquele felino que acabara de sair do armário. Tentamos por um tempo chamá-lo de Félix, mas vira-e-mexe o hábito adquirido se manifestava e acabávamos chamando de Blackie. Por fim, seu nome definitivo se tornou Black Félix (como se o Félix do desenho já não fosse preto, né). Enfim, foi o que consegui.
Mais algum tempo se passou e outras novas características afloraram no gatinho. Ganhou muito peso, virou praticamente uma bola. Ficou gordo que nem um beagle. Costumo chamá-lo carinhosamente de “minha baleia preta” ou "meu gato-baleia". Se não bastasse, descobrimos que tem vitiligo. Ele que é todo preto, até às almofadinhas das patas, foi ficando rosado em algumas extremidades. Não faz mal algum, mas agora é um gato multicolorido. Sua boca ficou rosada, algumas almofadinhas também, e parte dos pêlos pretos do cangote ficaram brancos. Mas não pense que ficou feio! Ele é lindo: gordo e rosa, em seu esplendor, com seus olhos amarelos cor-de-gema.
É tão carinhoso, que quando conseguimos levantá-lo do chão literalmente nos abraça com as patas. Pula toda hora em nosso colo, pedindo para aninhá-lo. Imagine com o peso que tem, a delícia quando pousa sobre nós. Mas não é tão peste quanto a veterinária havia calculado.
Bem, este é o segundo membro do Quarteto Fantástico. Como podem ver, cada um possui seus poderes especiais.