terça-feira, 29 de janeiro de 2008

É possível abordar um texto poético?






Autor: José Saramago

in Cadernos de Lanzarote - págs. 215-7 - Companhia das Letras, 1998.

*dica - leia devagar... e em voz alta*

"Abordar um texto poético, qualquer que seja o grau de profundidade ou amplitude da leitura, pressupõe, e ouso dizer que pressuporá sempre, uma certa incomodidade de espírito, como se uma consciência paralela observasse com ironia a inanidade relativa de um trabalho de desocultação que, estando obrigado a organizar, no complexo sistema capilar do poema, um itinerário contínuo e uma univocidade coerente, ao mesmo tempo se obriga a abandonar as mil e uma probabilidades oferecidas pelos outros itinerários, apesar de estar ciente de antemão de que só depois de os ter percorrido a todos, a esses e àquele que escolheu, é que acederia ao significado último do texto, podendo suceder que a leitura alegadamente totalizadora assim obtida viesse só a servir para acrescentar à rede sanguínea do poema uma ramificação nova, e impor portanto a necessidade de uma nova leitura. Todos carpimos a sorte de Sísifo, condenado a empurrar pela montanha acima uma sempiterna pedra que sempiternamente rolará para o vale, mas talvez que o pior castigo do desafortunado homem seja o de saber que não virá a tocar nem a uma só das pedras ao redor, inúmeras, que esperam o esforço que as arrancaria à imobilidade.

"Não perguntamos ao sonhador por que está sonhando, não requeremos do pensador as razões do seu pensar, mas de um e de outro quereríamos conhecer aonde os levaram, ou levaram eles, o pensamento e o sonho, aquela pequena constelação de brevidades a que costumamos chamar conclusões. Porém, ao poeta — sonho e pensamento reunidos —, ao poeta não se lhe há-de exigir que nos venha explicar os motivos, desvendar os caminhos e assinalar os propósitos. O poeta, à medida que avança, apaga os rastos que foi deixando, cria atrás de si, entre os dois horizontes, um deserto, razão por que o leitor terá de traçar e abrir, no terreno assim alisado, uma rota sua, pessoal, que no entanto jamais coincidirá, jamais se justaporá à do poeta, única e finalmente indevassável. Por sua vez, o poeta, tendo varrido os sinais que durante um momento marcaram não só o carreiro por onde veio mas também as hesitações, as pausas, as medições da altura do Sol, não saberia dizer-nos por que caminho chegou aonde agora se encontra, parado no meio do poema ou já no fim dele. Nem o leitor pode repetir o percurso do poeta, nem o poeta poderá reconstituir o percurso do poema: o leitor interrogará o poema feito, o poeta não pode senão renunciar a saber como o fez."

"Onde os fracos não têm vez" chega esta semana

A estréia desta semana é o filme dos irmãos Coen, conhecidos por suas narrativas de grotescas de humor negro. Poderíamos ir longe ao mencionar obras anteriores que valham a pena conferir: "Arizona nunca mais"; "Barton Fink"; "Na roda da fortuna"; "Fargo"; "O homem que não estava lá" e assim por diante...

"Onde os fracos não têm vez" (No Country for Old Men) é adaptado de um romance do autor americano Cormac McCarthy e reúne no elenco três grandes atores: Josh Brolin (que dá um show em "O gângster", também em cartaz), Tommy Lee Jones e Javier Bardem.

Joel e Ethan Coen ganharam anteontem o prêmio de melhor direção pelo Sindicato dos Diretores nos Estados Unidos. Isso significa que, provavelmente, eles ganharão o Oscar de melhor diretor (pois são as mesmas pessoas que votam nas duas situações). Pelo menos, tenha certeza, essa será a aposta de Rubens Ewald Filho, que sempre se baseia nos prêmios dos sindicatos para antecipar quem ganhará o Oscar, tirando toda a graça. Bem, acabo de fazer o mesmo, né.

Confira o trailer!

domingo, 27 de janeiro de 2008

"Sangue negro" está por vir e traz ótimas credenciais

Um dos filmes que mais aguardo no momento é "Sangue negro" (There Will Be Blood), de Paul Thomas Anderson. Coincidentemente, junto com "Onde os fracos não têm vez", dos irmãos Coen, é o filme que mais indicações possui para o Oscar deste ano. É uma trama que envolve a exploração de petróleo e o sangue derramado às suas custas.

Para mim, bastava a presença do diretor e do ator principal. Paul Thomas Anderson tem uma filmografia pequena ainda, mas fez duas pérolas: "Boogie Nighs" e, principalmente, "Magnólia" (com a sua cena da chuva de sapos e tudo mais... Faz filmes de forma descontinuada, acredito que devido às suas propostas pouco comerciais: filmes de longa duração, temática adulta, sem poupar pudores.

Daniel Day-Lewis dispensa apresentações. Não há papel em que não surpreenda. Aliás, hoje em dia somente ficaria surpreso se ele não surpreendesse. Basta lembrar de Christie Brown, de "Meu pé esquerdo", Gerry Conlon, em "Em nome do pai", ou Butcher Bill, em "Gangues de Nova York". É um ator que mergulha literalmente no personagem. Vive o personagem até fora das cenas. Isso é questionável, mas o resultado está nas telas.

Não tenho muito o que dizer, pois ainda não assisti. Apenas digo que é o que mais aguardo. Abaixo, o trailer para que possam apreciar.

Caso tenha dificuldades para ver o vídeo, acesse http://www.youtube.com/watch?v=GZOMYSEHZeQ

Negros, mulheres ou almofadinhas perfumados?

Certa vez, fui acusado de racismo. Eu trabalhava numa espelunca e um cliente me tratara muito mal. Engoli seco, como um bom atendente deve fazer e deixei o homem ir embora. Após a retirada dele, desabafei. “Folgado! Mal-educado! Pulha! Precisava me tratar assim? Foi apenas um mal-entendido!” Eu havia guardado os filmes dele que ele tinha deixado sobre o balcão. Ele estava separando para alugar, mas eu não sabia que eram dele. Ele tinha largado no balcão. As ordens que eu tinha era de guardar qualquer filme que estivesse sobre o balcão. Após ele brigar comigo, fui à cata de todos os filmes, os quais ele acabou levando. Isso foi na época do VHS total, mais ou menos início desta década.

Acontece que este homem era negro.

No dia seguinte, a gerente disse que eu havia sido racista. Que a “maneira” como eu havia me referido a ele tinha sido causada pela raça dele (e não pelo comportamento que ele tivera comigo). Eu sabia que aquela gerente não era um poço de boas intenções, então logo reagi. Após dizer-lhe tudo aquilo que eu pensava sobre suas acusações, peguei o meu boné e fui embora daquela espelunca. Nunca mais voltei. Eu era free-lancer, não possuia vínculos empregatícios. Eu deveria ter ido à polícia fazer uma queixa por calúnia. Mas não fiz isso.

Este episódio serviu para uma reflexão, a qual será utilizada no que será dito abaixo. Se aquele cliente que me tratara mal fosse judeu, eu teria sido repreendido da mesma forma? Ou japonês, ou índio, ou homossexual, ou árabe, ou marciano? Acho que não. Há uma fragilidade comportamental nas pessoas, uma insegurança congênita, que amedronta-as a contrariar ou criticar alguém de outra raça (principalmente a negra, por causa de nosso terrível passado – para não dizer, de forma pejoritava, ‘passado negro’), no receio de inverterem a situação e dizerem que aquelas críticas são devidas à cor da pele e não ao fato em si. Isso é um erro. Exatamente pelo fato de não ser afetado por esta hipocrisia, sinto-me tranqüilo para criticar quem quer que seja, não importa qual a cor, credo, preferência sexual.

E é exatamente por isso que me assunto com a cobertura da mídia a respeito das prévias para a presidência americana. Cansei de ver na televisão e na internet manchetes como “Obama é o preferido pela população negra da Carolina do Norte” ou “Hillary Clinton mantem-se na disputa graças ao voto das mulheres”. Esses candidatos não possuem propostas? Esses candidatos são apenas suportados por sua raça e sexo? Claro que não. Ou seriam os americanos um bando de ovelhas que apenas enxergam a superfície do candidato sem analisar sequer uma de suas propostas?

Pense realmente numa coisa: você acha que os Estados Unidos serão uma nação menos racista se elegerem Barak Obama para a presidência? Ou você acha que serão mais racistas se não o elegerem? Isso é uma estupidez e uma irresponsabilidade, principalmente da mídia. O foco da mídia está exatamente nesta luta de minorias reprimidas que tentam chegar ao poder – os negros e as mulheres. Isso está errado. A mídia deve se concentrar em analisar de forma construtiva as propostas dos candidatos. Sei que os especialistas em política fazem isso. Mas vejo o próprio Jornal Nacional apontar para simplificações, ao invés de aprofundar-se no tema. Vemos algumas rápidas informações de que os candidatos têm propostas para Educação, Economia e Empregos. Claro que eles têm. Mas não sabemos de nada.

O terceiro candidato, John Edwards, é todo bonitinho – diríamos que “uma cara de JFK”. Parece um galã de Hollywood, com seu cabelo arrumadinho e sua pele de bebê. Parece um garoto riquinho da Carolina do Norte, criado nos casarões de aristocracia local. Aí, se ele for escolhido para ser o candidato do Partido Democrata, nós diríamos que ele foi colocado lá pelos outros almofadinhas? Bem, parece que os almofadinhas estão em baixa, suplantados pelos negros e pelas mulheres. Se esta eleição for decidida por estas características e não pelas propostas de cada um, vejo um futuro temeroso pela frente. Seguindo o raciocínio da mídia, gostaria de saber: e as mulheres negras, votarão em quem?

Ao mesmo tempo, questionemos outra coisa: a mídia enaltece os votos de negros e mulheres nos candidatos porque isso realmente acontece, ou isso acontece porque a mídia se preocupa em apontar isso como fator preponderante? (essa é uma das famosas “diacronias Tostines”)

Pensar em tudo isso me fez lembrar do caso que relatei no início deste texto. Senti-me mais aliviado, pois lembro da pessoa que me fez tais acusações e apenas a enquadro entre aquelas que ainda acham que a forma de julgarmos e raciocinarmos neste mundo deve ter como parâmetro as diferenças entre as pessoas e não seus pensamentos.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Vale a pena uma "Conduta de risco"



Eu não pretendia escrever sobre esse filme. Na realidade, minha intenção neste final de semana era escrever sobre “O gângster”, de Ridley Scott. Achei o filme bom, com um Denzel Washington soberbo ofuscando o clichê de Russell Crowe. Mas não me animei. Pensei que ficarei sem escrever nada e que, na hora que surgisse a vontade e o assunto, escreveria qualquer coisa.

Hoje fui numa reunião e, já que voltava dela num bom horário, decidi arriscar um dos filmes indicados para o Oscar. Quando era mais novo, tinha o hábito de ir assistir, pelo menos, os cinco indicados para melhor filme. Nos anos passados, devido a diversos problemas, não fiz isso. Esse ano pretendo fazê-lo. Somente por isso que fui assistir a “Conduta de risco”. Não queria ver um George Clooney sempre igual, com aquela cara de Batman velho ou de médico de emergência. A cara de bom moço e a excelente dicção há muito me enjoaram (o contrário de quando ele está como diretor, mas este é assunto para outro texto). O diretor do filme também é um desconhecido: Tony Gilroy. Sei que é seu primeiro filme como diretor, mas dei uma olhada no Google e vi que é um roteirista experiente. Entre eles, dois filmes que gosto muito: “Eclipse total” e, principalmente, “Advogado do diabo”.

Fui sentindo-me um intruso, pois não queria estar lá. Sentia que a platéia somente sentava naquelas poltronas por causa das indicações do Oscar. Certíssimo: eu também estava lá por causa disso!

O filme abre com um depoimento em off introduzindo o escritório de advocacia. A montagem é suave e o depoimento é perturbante. Aos poucos emergimos na história que, de início, é difícil de entender. O galãzão é Michael Clayton (que, por sinal, é o título do filme), um advogado que possui um cargo diferenciado no escritório: solucionar problemas. Quais problemas? Qualquer um. Eis que surge um problema enorme e ele se envolve, tem um amigo relacionado, e blá blá blá. O enredo não é o que importa. O que me atraiu no filme foi o tratamento dado à história. Por ter um monte de advogados envolvidos, me lembrou os filmes baseados em John Grisham. Mas é melhor. Consegue ser bem menos “rocambolesco” do que “A firma” (o melhor deles), mais profundo que “O cliente” e “Dossiê Pelicano” (que é um lixo) e mais atraente do que “O júri” (porque este... nem vi).

A fotografia do filme é escura, sem exagerar nas sombras e contrastes, mas a montagem é perfeita. É uma montagem sóbria, que cria suspense quando tem que criar, surpreende nos momentos certos e, ao mesmo tempo, não necessita de subterfúgios complexos para alinhar a narrativa. Trabalha o filme todo num flashback curto, de quatro dias. Geralmente, quando se utiliza deste artifício, os cineastas costumam fazer longos flashbacks de meses e semanas. Nisso, a história fica muito fragmentária, cheia de elipses, para que no curto espaço de duas horas de projeção tudo seja contado. Talvez seja isso que tenha me incomodado em “O gângster” – em duas horas e meia querer contar mais de uma década de história.

Tony Gilroy se concentra nestes quatro dias anteriores e nos subseqüentes e consegue extrair densidade de uma história que, num primeiro momento, pareceria banal. Enfim, achei tudo muito bem ajustado, correto, sem exibicionismo ou qualquer tentativa de supervalorização. Em sua simplicidade, “Conduta de risco” satisfaz, entretem e conta a história que se propôs a contar.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O morcego e o sorriso

Este é um dos trailers do próximo filme do Batman, dirigido por Christopher Nolan.

O filme chamará "Batman, o Cavaleiro das Trevas". Nele, o recém-falecido Heath Ledger faz o papel do maior arquiinimigo do homem-morcego: o Coringa. Ainda há Christian Bale, Michael Caine, Morgan Freeman e Aaron Eckhart.

Deve estrear no Brasil em agosto.

Caso haja algum problema no vídeo, acesse

http://www.youtube.com/watch?v=WaIR9dAZRR0

Olhares cotidianos - para conhecer Eliane Brum

para Fred Linardi

Quando me ofereceram as crônicas de Eliane Brum para ler, li com muito interesse. Vinda do sul de nosso país, nós – os paulistas metidos – a conhecíamos pouco. Hoje ela trabalha na Revista Época, mas ficou anos e anos no Zero Hora. E foi neste jornal que escreveu as linhas que podemos apreciar em “A vida que ninguém vê”.

A arte do jornalismo não se limita a retratar um acontecimento. Isso qualquer um faz. Mas saber transparecer o olhar a este acontecimento, distrinchar suas “simples complexidades”. Ah, esta sim é uma arte. A sensibilidade de observar o cotidiano e expor suas vísceras em palavras cuidadosamente lapidadas em frases objetivas, claras e saborosas.

Mergulhei em cada vida contada nos curtos textos, desde o drama do comedor de vidro que questiona seu talento, quanto a cisma do vendedor cego de bilhetes da Mega-sena em entoar num volume alto sua propaganda. Sentimos a força do texto ao ler o drama de Antonio que tem o filho recém-nascido morto, mas não consegue enterrá-lo propriamente. A pele arrepía-se ao descobrir a história por trás do doce velhinho dos comerciais, que antes teve que arrastar-se pelos ásperos solos nazistas.

Cada relato é um olhar. Eliane Brum tem trabalho ao despir as próprias defesas e deixar-se aberta a qualquer possibilidade. Seja de acontecimento, seja das pérolas que podem sair da boca de seus personagens.

Porém, a lição que fica é mais jornalística do que literária. No texto conclusivo do livro, a autora diz que foi muito influenciada por um professor da faculdade, chamado Marques Leonan. Ela diz que o lema principal dele era “repórter não tem o direito de ser ingênuo”. Eliane Brum demonstra perspicácia ao conseguir extrair os relatos mais contundentes e surpreendentes daqueles com que conversa. Nestas horas, não tem como esquecer Eduardo Coutinho, outro mestre nesta arte. Melhor ainda, leio na orelha do livro que a bela autora também tornou-se documentarista. Essa não posso perder.



A vida que ninguém vê
Eliane Brum
Arquipélago Editorial
R$ 32,00

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mais um desperdício na seara cinematográfica

Infelizmente, já se tornou uma tradição. Atores e atrizes fazem grande sucesso, mas acabam por mergulhar nas armadilhas do destino e jogam suas vidas fora.

Heath Ledger participou de alguns bons filmes nos últimos anos. O mais marcante foi "O segredo de Brokeback Mountain", para mim uma das obras mais sensíveis dos últimos anos. Mas também teve uma rápida atuação em "A última ceia" e promete aterrorizar a todos como o novo Coringa no filme "Batman, o cavaleiro das trevas", que será lançado no Brasil provavelmente em agosto. Foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento, com um vidro de pílulas para dormir tombada a seu lado.

Não precisamos ir longe para lamentar algumas perdas. No início desta semana, Brad Renfro perdeu a vida por causa do vício pelas drogas. Quantos mais? James Dean parou esmagado dentro de seu carro esportivo, River Phoenix partiu após uma overdose de diversas porcarias... Natalie Wood morreu afogada. Grace Kelly, acidentada (apesar de naquela época já ter desistido de atuar, mas não da coroa do Principado). O belíssimo Montgomery Clift e o mito Marilyn Monroe sucumbiram às drogas, aos remédios e ao alcoól. Chris Farley também teve uma overdose. Isso porque não entro no mérito dos músicos, pois a lista seria até maior, com Jimmy Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin apenas de abertura.

Fico a imaginar o que teríamos agora se estas mortes não tivessem ocorrido. Se James Dean teria se tornado um ícone similar ao que se tornou com seu desaparecimento precoce. Será que Marilyn seria o mito que é se não tivesse morrido tão cedo? E se tivesse se deteriorado pelos anos, como aconteceu com Elizabeth Taylor, que ficou resumida a papéis banalizantes que minimizaram seu talento mostrado nos anos 50 e 60?

O que este australiano faria no futuro será sempre uma incógnita. Poderemos especular baseados em sua capacidade demonstrada na sua curta trajetória.

Enfim, só nos resta lamentar.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Homenagem

Este vídeo é uma homenagem a quem parte para terras distantes, ao sul de meu conhecimento.

Papel relevante em minha existência, pois compartilhou conhecimentos, sensibilidade, amizade e me apresentou canções maravilhosas.

Daniel Powter foi o principal. Nunca teria conhecido se não fosse você.

Thanks do Golds

Se não conseguir ver o video corretamente, acesse o link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=3Pi7_n-BbwA

sábado, 19 de janeiro de 2008

Sobre um filme do qual não sei bem o que pensar

Um livro arrebatador... Uma história complexa e dramática, com personagens marcantes. Uma personagem, em especial, com o tempo poderá se tornar emblemática na literatura inglesa - Briony Tallis. Quando o livro "Reparação" esteve às minhas mãos, tive a certeza que folheava páginas de um futuro clássico. Ao mesmo tempo, considerava que daquela história poderia sair facilmente um filme. Enfim, sempre que leio algo não consigo evitar: penso nas imagens, como seria a montagem, quem seriam os atores... Qual o rosto que gostaria de dar para eles...

Quando vi que o livro de Ian McEwan tinha sido adaptado, fiquei na expectativa... Se não me engano, exibiram o filme pela primeira vez em Cannes. Eu nem sabia se viria para cá. Não sabia se era daqueles filmes apenas do circuito de arte. Desses, alguns vêm para o Brasil, e outros ficam no limbo, no meio do caminho, ou nem isso... no início do caminho... distribuição restrita. Mas esse não! Acabou que me surpreendi com as várias indicações que ele recebeu para o Globo de Ouro deste ano e o salto dele na mídia. Não houve festa, não houve comemoração, mas ganhou o prêmio de melhor filme de Drama do ano (essa Associação dos Críticos Estrangeiros premia separado - Drama de um lado, Musicais ou Comédias do outro). Dizem que o filme vai arrasar no Oscar... mas eu tenho as minhas dúvidas...

Acho uma covardia querer comparar um filme com o livro do qual ele é adaptado. Vou tentar não fazer isso, pois como já pode ver, sou um fã do livro. Tentei me desvincular do livro quando assisti e as críticas que tenho a respeito são meramente quanto à obra cinematográfica. Não dá para querer que um filme seja exatamente como o livro, pois é uma concorrência desleal comparar uma obra audiovisual com uma obra multisensorial- que é aquela que nasce em nossas mentes, em nossa imaginação. O roteiro do experiente Christopher Hampton é de arrasar. Ele consegue transportar a essencialidade do livro para a tela. Perde detalhes, alguns importantes, mas mantém o que é relevante. Faz as escolhas certas. Somente sentimos a falta destes detalhes que mencionei quando a revelação final aparece. Neste instante, parece que é tudo muito súbito. Perdemos um pouco daquela sensação de graduação, de acontecimentos e pensamentos que se sucedem de forma lógica. Mas, para isso, o ritmo do filme teria que ser quebrado. Bem, esta era uma barreira, um desafio, que o diretor Joe Wright tinha que enfrentar.

Porém, um filme que tinha tudo para ser belíssimo, se perde ao supervalorizar a destreza técnica. Ninguém quer que um filme seja mal feito, mas o exagero na plasticidade atrapalha em alguns momentos. Tem algo que me incomoda em alguns filmes brasileiros contemporâneos. O excesso de beleza na fotografia. São aqueles céus maravilhosos, vermelhos ao pôr-do-Sol, ou a chuva cadente em seus esplendor, iluminada pelos fantásticos raios que insistem em cruzar a planície. Bah! Percebi em "Desejo e reparação" um preocupação excessiva em fazer planos maravilhosos, cuidadinhos, com trocas de foco complexas e angulações "interessantes". Nas cenas exteriores, cores bem demarcadas, como o vermelho do céu (já virou clichê), ou o acizentado do praia de Dunquerque após a tomada pelos Aliados. Sem dizer naquele plano-seqüência de, parece, seis minutos, que vai de nada a lugar nenhum. Li em alguns lugares que o diretor justificou que aquele é um momento decisivo para o personagem de James McAvoy (por sinal, um excelente ator, como já havia demonstrado em "O último rei da Escócia"). Discordo. Pareceu puro exibicionismo técnico.

Ao mesmo tempo, a trilha sonora, sobre a qual li várias críticas negativas, é ótima. Inteligente, funcional e criativa. A montagem idem, apesar de, em alguns momentos, parecer que tem medo que não entendamos o que está acontecendo.

Terminei a sessão com a sensação de que algo faltou. Não foi alguma parte específica da história (pois li o livro já há uns dois anos e não lembro de forma concreta de algum trecho - somente lembro emocionalmente). Talvez, ao assistir novamente, eu me identifique melhor. Talvez eu necessite de mais tempo para o filme maturar em minha cabeça. Pelo menos, deu para escrever alguma coisa a respeito, e dividir com você. Mas realmente ainda não sei bem o que pensar.