domingo, 25 de novembro de 2007

Um cidadão dançante que é todos nós

É uma tarefa arriscada colocar 80 pessoas num palco e fazê-las dançar coreografias complexas.

A chance de um desastre aumenta e um espetáculo pode ir abaixo após algum erro irremediável. Porém, o que pensar sobre o palco? Há erros irremediáveis? Não. É um espaço de improvisação misturado à técnica e preparo. E quando são artistas profissionais, gabaritados, experientes, tudo fica mais fácil.

E quando, entre estas 80 pessoas, a maioria for de não-profissionais? Pessoas de todas as idades, compleições físicas, profissões.

É nisso que consistiu o espetáculo "Kashmir Bouquet", realizado por Ivaldo Bertazzo como parte do seu tradicional Cidadão Dançante. Ele reuniu por mais de um ano uma quantidade grande de pessoas (acima do número contido no formato final) em ensaios quase diários para coreografar cerca de uma hora e meia de dança intensa. Acompanhei o esforço de uma das dançarinas: sua dedicação, seu sofrimento. E reconheço que eu me questionava se isso era um exagero. No fundo, imaginava que não, pois sabemos que a dança, como uma arte plástica e física requer treino e muita repetição. Ainda mais quando se trata do entrosamento desta quantidade de pessoas de características tão variadas. Comprovei que este dito "exagero" de ensaios era justificável.

As coreografias apresentadas são surpreendentes. Não tenho um conhecimento grande em dança para localizar o estilo ou até para fazer uma ligação com a própria obra de Bertazzo. O que posso descrever é como ele atingiu a minha sensibilidade. Aquele amontoado de pessoas dançando, ora em velocidade, ora vagarosamente, criava desenhos sugestivos, que para mim seriam como marolas selvagens no mar, ou o vôo de um bando de pássaros, que se movimenta em conjunto mesmo quando muda de direção e é capaz de manter sua geometria simétrica.

Neste espetáculo, até mesmo as luzes contribuem para a plasticidade. Em um dos números, os cidadãos dançantes formam uma roda e dançam um ciranda convulsa e acelerada, mas com um foco de luz que vem do chão. O resultado foi o desenho de sombras dançantes na fumaça espessa que havia sobre eles. Lindo!

Os artistas não saem do palco. Quando não atuam, estão sentados nas cadeiras postadas no limiar do palco, a trocar de roupa ou apenas em stand by. É impressionante o preparo físico de todos os participantes. Lembro que são artistas amadores, o que torna sua realização mais impressionante. Todas agiram como verdadeiros profissionais. E digo isso não como aquele usual consolo que tendemos a dizer sobre o esforço sofrível de leigos. Mas como um real reconhecimento da qualidade do trabalho deste grupo, de seu feito, e da beleza que nos proporcionaram.

Porém, como tudo, o espetáculo não é perfeito. Tenho uma crítica muita séria a ele: apenas ficou em cartaz por duas semanas e não poderá mais ser apreciado. Espero que isto seja revisto e os patrocinadores estimulem a continuidade.

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Hugo muito lindo o texto!!
Obrigada por todo o carinho!
Fiquei muito feliz com toda a emoção que você sentiu, isto quer dizer: Missão Cumprida!!!

Beijos!!!
Renata Daibes

Thais disse...

Deu até vontade de ver...mas já acabou?
bjoooos

Anônimo disse...

Huguitooo vários cidadãos se manifestaram sobre o seu texto. Todos adoraram viu? Obrigada mais uma vez.
Ah e por falar nisso, fomos convidados para mais 2 apresentações, dessa vez no Sesc Pinheiros, dias 8 e 9 de dezembro.
Se for confirmado te aviso!
Beijos

Vera Helena disse...

Muito bom o texto, realmente nos instiga a querer assistir ao espetáculo. Beijos